Oi pessoal, bem-vindos ao “Conversando sobre Animes” de Madoka Magica, ou Maho Shoujo Madoka Magica, ou ainda Puella Magi Madoka Magica. Por se tratar de um anime “mainstream” atual, e ter diversas criticas a seu respeito, vou direto ao assunto neste texto com muitos Spoilers.
Vamos falar de três coisas aqui. O primeiro ponto a se pensar é em Sacrifício; o segundo é no público alvo: o Feminino; e por fim na questão de “Aonde estão os Homens na história?“, que é ligada ao público alvo.
O Sacrifício
Que é sacrificar-se? É dar-se pelo outro. Mas só há sacrifício de fato, quando você perde algo que lhe sensibiliza, lhe dói, e mesmo lhe Transforma. É uma característica essencialmente humana. Como a Madoka — que se “sacrifica” virando uma “deusa”, tal qual Lain (em Serial Experiments Lain) para impedir que mais garotas mágicas se tornem bruxas… Vamos com calma.
As bruxas são as próprias Maho Shoujos, o que quer dizer que não apenas o mal está nelas mesmas, como se transformar numa é “não vivenciar” a dor que de fato se sente. Em verdade, se transformar em uma “Bruxa” é evitar a dor, deixando-se de ser, consciente de si mesma.
Para piorar, quando a Madoka evita que as “garotas mágicas” se transformem em “bruxas”, ela evita que elas vivenciem a dor, evita que elas sofram, evita que elas cresçam como pessoas. Além deste “sacrifício” que a Madoka faz — como vimos, a Madoka se torna um meio das “garotas mágicas” fugirem dos problemas — ela sacrifica o amor que sente pela sua “melhor amiga”.
Eu não sei se os japoneses sabem, mas no início da poesia, os poetas/trovadores faziam canções de “amigo”, que eram endereçadas para suas amadas. Ter uma amiga, portanto, era ter uma amada.
Acho que os japoneses não sabem disso. Mas é claro que todo o sacrifício que a Homura faz para que a Madoka exista, é porque ela a ama — e ao meu ver, é correspondia pela sua “amiga”. Só pra constar, o episódio onde a Homura mostra tudo o que passou pela Madoka, é de longe o melhor de todo o anime.
Por que o autor não quis que elas ficassem juntas? Todo Maho Shoujo tem romances “proibidos”, ou amores não correspondidos. Que o digam Sailor Moon e Card Captor’s Sakura. Então não entendi bem o motivo do autor/diretor “esconder” o profundo amor que a Batman, digo, a Homura sentia pela Madoka, e que bem sabemos, a Madoka retribuiria.
O anime fala de Sacrificar-se
Falando assim, parece que somente o nosso casal acima é o único que se sacrificou no anime. Errado! A Sayaka se sacrificou pelo Kamijou, a Kyouko primeiro pelo pai, depois pela própria Sayaka, e por fim a Mami que se sacrificou por ela mesma — não conta ela tentar salvar a Madoka daquela bruxa.
É claro como a água que o anime fala de sacrifício. Certo que eu só percebi isso quando a Madoka virou a Lain, digo, a “deusa”, rs. A questão são os motivos dos sacrifícios e a não vivência das tristezas no argumento do anime — que possui um Roteiro pós-Clássico frequente em Maho Shoujo, óbvio.
Repito, ficar triste faz parte de crescer, e se transformar em “bruxa” ou “deixar de existir” é simplesmente não vivenciar essas dores que nos constituem enquanto tais. O anime peca como uma boa obra, por defender “fugir dos problemas”, o que acaba nos fazendo não sentir as mortes, ou melhor, os sacrifícios das meninas — Há um real sacrifício se nós nem elas, não os sentimos?
Público Alvo: Meninas
E isso cai diretamente no público alvo. O anime é um anime feminino. Não há presença importante de homens. As questões e necessidades são as “sentidas” pelas meninas, assim como as “grandes conversas” do anime como a que a Madoka teve com sua mãe: “às vezes é preciso deixar o outro errar”, reforçam a feminilidade da obra.
Não acho ruim isso não. ARIA, por exemplo, é um anime voltado para o público feminino e isso é um ponto capital — ARIA é 10 pessoal — mas Madoka simplesmente não consegue falar de fato dos sentimentos das meninas. As mortes não podem ser sentidas, a Homura vira uma “robozinho” depois de tanto voltar no tempo, e o sentir é sempre controlado, racionalizado, filtrado.
Tudo o que as meninas não podem é sentir, sentirem-se mulheres. E as que se sentem, como a Hitomi Shizuki, podem ser mal-vista pela audiência por “roubar o namoradinho da amiguinha”. Sinceramente me pergunto se os autores Sabem falar com o público feminino, se tanto excluíram a presença “do outro lado” no anime.
O outro lado: Aonde estão os Homens na história?
O pai da Madoka é ausente a tudo, assim como o Kamijou usufrui sem agradecer o seu “milagre”. Confesso que me preocupou essa ausência, ou falta de preocupação com o outro lado (conosco, com os homens).
É basicamente como ver Kingdom: só aparece Uma personagem feminina no episódio 15 +/-. Além disso, ao meu ver, o futuro do anime é um futuro fortemente Feminino. Além de não haver presença “do outro lado”, no fim do anime com a não mais existência das “bruxas”, figuras “masculinas” formam o aspecto do que seria “o mal”.
Confesso até aqui certa preocupação. Ensinar as meninas a fugir dos problemas e tentar viver alheias do sexo oposto? Talvez seja muito forte a segunda proposição. Vamos dizer que, “o anime não fala com o público masculino” e fechar o assunto.
Conclusão
O anime ao meu ver, me perdoem os fãs, é fraco. Assisti ele até o fim porque gosto de “sangue”. Apesar de amar a Mami, saber que ela foi morta decapitada, me fez continuar. Foi realmente uma sensação estranha ver todas aquelas meninas morrerem, uma após a outra, e simplesmente não sentir nada, porque a única que mostrava algum sentimento era a Madoka.
E mesmo assim, a Madoka estava tão alheia com a/o Kyuubey para tentar descobrir como parar aquele “mal” — Kyuubey “não tinha culpa”, ele estava ali para continuar a existência da espécie dele; era um Soldado — que não tivemos tempo, nós, público, de chorar/sentir, as mortes da Mami, Sayaka, Kyouko, ou mesmo sofrer porque a Homura havia perdido o grande amor da sua vida.
Ou seja, não conseguimos vivenciar as grandes questões do anime, porque os personagens não trabalhavam essas emoções — elas não podiam ficar tristes lembra? — e por não poderem vivencia-las, é claro que elas não cresciam como… Personagens.
Vou fechar esta review repetindo o argumento do anime: Fugir dos problemas, como Evitar a morte de seu grande amor, ou evitar vivenciar a tristeza (se transformando em “bruxa” ou deixando de existir), de forma alguma é ao meu ver, um bom argumento, não importa para que público seja.
Ensinar as meninas a não encarar os problemas é uma tolice sem tamanho. O anime é ruim, assim penso. Indico (para Todos!) Black RockShooter por ele falar justamente do contrário. Crescer e renascer como uma fênix, diante das diversidades da vida.
Nota: 8,0 – 7,5
Fontes e Ficha do Anime:
Wikipedia ENG [Link]
AnimeList [Link]
Diretor: Akiyuki Shinbo [Link]
Escritor: Gen Urobuchi [Link]
(Gen Urobuch também é autor da Light Novel de Fate/Zero da Type/Moon e parece que participou de muitos outros animes conhecidos)
